Ambiente: (Lucas 11.5-10) — “Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, Pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; Se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; Digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister. E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á” (Lc 11.5-10). Os fariseus acompanhavam com um ritual o modelo da legítima oração de Daniel: na terceira hora, sexta hora e nona hora. Eles amavam ficar de pé nas sinagogas, e proferir suas orações, as quais foram adjetivadas por Jesus de hipócritas:
“E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt 6.5). Oração, jejum e consagração foram os ingredientes indispensáveis para que a nação recebesse o seu Messias em plenitude de coração: “Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem” (Lc 5.33)? A Parábola do Intercessor é de conteúdo emocionante, pois fala de três amigos: o viajante, o humilde amigo do viajante e o próspero amigo do segundo! Uma bela lição de esplêndida literária e conteúdo teológico!
Explicação: o primeiro amigo viajante, não tinha casa, e esperava ser hospedado antes do anoitecer; o segundo amigo, o intercessor, tinha casa, mas seus limites de hospedagens eram escassos, e tudo o que tinha preparado no dia havia sido consumido pela sua família! No Oriente, principalmente naquela época em Israel, o hospedar era questão de hora e obrigação sociocultural. As casas eram de um só cômodo, e quando anoitecia a sala de estar e jantar transformava-se em um dormitório comunitário para toda a família! Àquela altura da noite não era mais habitual bater na porta de alguém para se pedir um favor. Pois, não somente exporia toda a família, mas teria de desarrumar os que tinham sido preparados, expondo o cômodo ao frio e a penetração de pequenos e perigosos animais. Mas esse
abastado amigo era o único que o segundo tinha para suprir a necessidade do viajante amigo! Intrigante, não? Após o insistente bater de porta, do emocional clamor da busca e o insistente pedido, o amigo se lhe abriu a porta:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á” (Lc 11.9-10)!
Interpretação: os discípulos a contemplarem a motivação, as palavras e os suspiros das orações de Jesus, clamaram:
Senhor ensina-nos a orar! Ai estava o quadro que ligava o homem a Deus, ligava a nação aos céus: i. o amigo viajante, o
pecador vagabundo sobre a terra; ii. o segundo amigo que se tinha prudentemente recolhido a sua humilde casa em Nazaré,
Jesus, a alegria e salvação dos homens; iii. o abastado amigo que ouviu a súplica do segundo é o nosso
Pai celestial! Jesus sabedor desse mistério, não somente orava intensamente, mas os ensinava como fazê-lo, e receber todos os benefícios daquela busca: “Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb 3.1)! Ele sabia que o Pai jamais despederia de mãos vazias alguém que a ele suplicasse, não importando a hora ou as circunstâncias que os envolvesse! A oração seria uma pálida lembrança de se restaurar a comunicação perdida com o nosso Pai Celestial desde o Éden! Jesus no Evangelho de São Mateus 6.9-15 colocou a prioridade, a virtude e reverência da oração: a.
sentido da oração, ao Pai; b. virtude da oração, adoração ao Pai; c.
prioridade da oração, o trabalho do Pai; d. a motivação secundária da oração, as nossas necessidades que o Pai haveria de suprir: e.
restauração de um relacionamento ocasionalmente perdido, o Pai a todos perdoa; e, finalmente, sabedor dos perigos que nas noites que cercam o jornaleiro, o Pai, através dos seus anjos, e do Santo Espírito, provê para cada um dos primeiros amigos, firme proteção:
“Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos” (Sl 40.2). A prioridade máxima e única para se adentrar no Reino de Deus ou no Reino dos Céus será ter a nossa relação com Deus Pai restaurada. Essa fenomenal triangulação do Pai, do Filho e do homem é sobejamente exposto na Parábola do Intercessor!
O personagem em pauta é definido como um dos profetas de Israel durante o século IX, da época veterotestamentário, durante o reinado de Acabe e Acazias. Seu nome em hebraico significa o Senhor é Deus. Ele era oriundo de Tisbe, região de Gileade, que se situava ao leste do rio Jordão. Ele é mencionado nas Sagradas Escrituras cento e duas vezes. Ele foi um porta-voz de Deus que recebeu sustento divino através de corvos, no momento de dificuldade espiritual após a ameaça feita por Jezabel (1 Rs 19). No Reino do Norte, o ministério de Elias deu-se cabo numa época em que o povo de Deus estava vivendo em pecado, não observando as ordenanças divinas previamente dadas pela propria mão de Deus (Ex 20.3-5; 31.18). A apostasia chegou ao seu auge, quando o rei Acabe casou-se com Jezabel, princesa dos sidônios, e protagonista da adoração a Baal (1 Rs 16.31). A narrativa histórica aborda alguns eventos que marcaram o ministério de Elias, tais como: a abertura do rio Jordão como acontecera com Josue (2 Reis 2. 8); a multiplicação do azeite e da farinha da viúva (1 Reis 17.14, 16); a ressurreição do filho da viúva (1 Reis 17. 21-23); vitória sobre o exército dos assírios que haviam ameaçado o povo de Israel (1 Reis 20.28); vitória sobre 102 homens que foram consumidos por fogo que caiu do céu (2 Reis 1.10, 12); prenúncio de uma grande seca, que se cumpriu na sua íntegra (1 Reis 17.1; Tg 5.17); prenúncio do término da seca em Israel (1 Reis 18. 42.45); e prenúncio do final trágico de Jezabel (1 Reis 21.23). É importante realçar que Elias foi um profeta de grande proeminência, ao ponto do profeta Malaquias fazer referência dele. Elias foi um profeta conhecido pelo povo de Deus, e quando Jesus foi crucificado, muitos pensavam que Jesus clamava por Elias (Ml 4.5, Mt 27.46-50). Durante a transfiguração de Jesus, Elias é mencionado quando a glória de Deus se manifestou entre os discípulos (Mt 17.1-13). No final de seu ministério, Elias é arrebatado em um carro de fogo, deixando assim o seu sucessor Eliseu, o qual recebeu porção dobrada do espírito que estava em Elias (2 Rs 2.11).