Sonhando
Acordado!
Rev.
Ricardo Goldim — Brasil
Ontem
sonhei que estava em um culto com o
auditório lotado. A reunião iniciou-se com uma oração muito mecânica.
Em seguida apresentou-se um grupo musical gospel. A letra era paupérrima,
toda a música concentrava-se em repetir o refrão: "O leão
de Judá derrotou o outro leão perigoso". Terminada a "batalha",
foram gastos mais de quarenta minutos no levantamento das ofertas
— desde ameaças a promessas de que receberiam cem vezes mais. O pregador da noite levantou-se para
falar e, por cerca de cinqüenta minutos, discorreu sobre assuntos
diversos sem, contudo, conduzir uma linha de raciocínio, sem
compromisso algum de expor a Bíblia. Meu sonho me perturbava. De
repente, para minha absoluta surpresa, vi ao meu lado, participando
do culto, quatro personagens históricos: Martinho Lutero, João
Calvino, João Wesley, Charles Finney e Gunar Vingren, fundador do
pentecostalismo no Brasil. Mal podia acreditar que estava cultuando
a Deus ao lado de tão ilustres personalidades do mundo evangélico. Muitas perguntas vieram à minha mente:
curiosidades, esclarecimentos, dúvidas que precisavam ser sanadas.
Todavia, eles é que começaram a me
questionar. Lutero mostrava-se indignado pelo que parecia uma
volta da igreja à Época Medieval, dos amuletos, relíquias e
indulgências.
Expliquei-lhe que a igreja brasileira está inserida em uma cultura
muito mística. Falei da herança católica medieval, disse que os
índios brasileiros eram animistas. Para ele,
a Palavra deveria ser suficiente para produzir fé e não havia
necessidade de "pontos de contato" para o poder de
Deus fluir em nós. A
preocupação de Calvino, entretanto, era entender o porquê de tanto descaso com a Bíblia. Falou-me que,
até o avanço dos protestantes na Europa, cultuar a Deus resumia-se
a assistir a um ritual. A liturgia era mais importante que a exposição
do texto sagrado. Wesley, por sua vez, encontrava-se aturdido. Ele me disse que, por aquele culto, percebia
que havia muitos chavões, mas pouco compromisso ético na igreja.
Por duas vezes, perguntou-me: "Será possível conduzir a
obra de Deus apenas prometendo triunfo, sem jamais questionar a vocação
profética da igreja?". Charles Finney também se
aproximou de mim, querendo entender o que se passava. Falou-me de
como eram os cultos evangelísticos de seus dias e de como as
pessoas encaravam o novo nascimento. Ele fazia o apelo para que as
pessoas que estavam "ansiosas" por salvação
tivessem um tempo para refletir e saber se realmente desejavam um
compromisso real com Cristo. Sua inquietação com o culto do qual
participávamos, vinha da maneira tão trivial como as pessoas
encaravam a conversão e o discipulado! Gunnar Vingren, não
aceitava que todo o sacrifício dos pioneiros do movimento
pentecostal desmoronasse em uma teologia tão imediatista. Ele disse
que não havia Pentecostes sem a cruz. Comecei a
suar. Sem conseguir dormir de novo, ainda em minha cama,
orei e pedi a Deus que levantasse no Brasil um
povo comprometido em ter apenas a Bíblia como regra de fé e
prática. Pedi-lhe que levantasse pastores que cuidem do povo como
rebanho de Deus, e não como um investimento que pode ser
capitalizado no futuro. Orei para que os seminaristas não
confundissem
sucesso com um ministério aprovado por Deus. Os sonhos
muitas vezes mostram o que não queremos ver. Talvez, a maior
necessidade da igreja, a nossa necessidade, seja a de olhar-nos criticamente. Se fecharmos
os olhos para a trivialização do sagrado, para a falta de
compromissos éticos e proféticos, para a transformação do culto
em espetáculo, não só nos condenaremos a sermos irrelevantes para
a nossa geração como envergonharemos muitos herois que já deram a suas
vidas pela causa de Cristo!
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Idolatria
Pedro
Marques Pereira — Portugal
No
Antigo Testamento o pecado da idolatria é explicitamente condenado
no primeiro e segundo mandamentos: “Não farás para ti imagem
de escultura, nem alguma semelhança... não te encurvarás a elas,
nem as servireis; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso”
(Ex 20.4,5). O seu castigo, no caso de transgressão nacional, está
claramente determinado (Dt 4.15-28). Os judeus viveram em um mundo
repleto de ídolos. Os Egípcios representavam as forças naturais
através de suas deidades em várias formas humanas-animais, como o
sol (Re ou Atum), o céu (Nut), e a terra (Geb). Esta prática
influenciou muito o povo judeu. Ao sair do Egipto, o povo pediu a Arão
que fizesse a imagem de um deus visível, o qual construiu um
bezerro de ouro (Ex 32.1-4). O culto aos ídolos remonta da idade
patriarcal (Gn 31.19; 35.2). Desde o princípio Deus adverte o seu
povo contra a idolatria, mas o seu coração sempre foi voltado aos
ídolos (II Rs 17.12). Na sociedade moderna ou contemporânea
existem valores pessoais colectivos que por vezes põem em causa a
nossa crença, fé e abalam a nossa estabilidade espiritual (At
17.16). Paulo comoveu-se em seu espírito pela idolatria praticada em
sua época (At 17.16). Um dos ídolos era o dinheiro para o qual
avisa Timóteo, dizendo que este era a raiz de todos os males (I Tm
6.9-11), e outros dos ídolos era o sexo, na forma da deusa Diana ou
Artêmis, da cidade de Éfeso (At 19.28). Portanto, o ídolo é uma
figura representativa da divindade. Idolatria é o culto prestado
aos ídolos, numa deferição restrita. Duma forma mais ampla é
todo tipo de adoração, mesmo inconsciente, ou algo a quem damos
mais valor do que Deus, e um só mediador entre Deus e os homens,
Jesus Cristo homem (I Tm 2.5).
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