Um velho ditado afirma que reformar é sempre pior do que fazer novo. Sem dúvida, toda reforma implica em cuidados redobrados. Lembre-se, por exemplo, o longo e dispendioso trabalho de restauração da figura de Davi, pintada na abóbada da Capela Sixistina, por Michelângelo, no final da Idade Média. Conta-nos a história bíblica que os que retornaram da Babilônia iniciaram logo o processo de culto a Deus, através dos sacrifícios, mas, quando começaram a encontrar obstáculos e resistência por parte do povo de Samaria, que habitava o antigo reino do norte, tiveram de parar a construção do templo. É assim que Deus faz. Ele chamou, preparou e enviou Neemias para reconstruir os muros de Jerusalém. Ele usou seu servo para reformar a cidade. Mas antes, foi preciso demolir algumas coisas da vida do povo, a fim de que, este, preparado, pudesse lançar-se na obra de restauração. O texto de Neemias capítulo dois, versos 11 a 20, fala das medidas preliminares que Neemias estava tomando, antes de lançar-se na reconstrução da cidade. Ele faz, na verdade, uma grande inspeção, a fim de verificar que tipo de força-tarefa poderia reunir. Neemias precisou demolir primeiro, alguns muros da vida do povo, a fim de conquistá-lo para a reconstrução de Jerusalém. Por oportuno perguntamos: quais os muros que precisam ser demolidos de nossas vidas, a fim de que se construa os novos? Neemias teve de derrubar do coração do povo os muros da incapacidade de se confrontar com as próprias dores. O texto informa que, após chegar a Jerusalém, Neemias levou alguns representantes do povo, e os fez interagir com a sua própria dor, ou seja, os fez contemplar os muros derribados, as portas queimadas pelo fogo, enfim, defrontou-lhes todo aquele quadro dramático. Na verdade, o próprio Neemias estava sendo confrontado com aquela dor, com aquele sofrimento, visto ter feito sua a dor do seu povo, como conferiu a Artaxerxes: “E disse ao rei: Viva o rei para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, estando à cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas a fogo?”. Muita coisa precisava ser demolida para, só então, ser reconstruída. Ou seja, o pouco que fora deixado das muralhas deveria ser demolido a fim de que fosse preparado o caminho para uma substituição decente. Sempre é melhor construir do que reconstruir. Nisso, mais uma vez estava certo Jesus quando formulou esse princípio a Zaqueu — “é necessário nascer de novo”! A tarefa era avassaladora em suas dimensões. Muitas vezes precisamos passar pelas portas do vale, do monturo, da fonte, e, em nossas próprias ruínas, como fizera Neemias, e verificar que, não poucas vezes, as vias estão bloqueadas, os acessos e os caminhos, repletos de lixo, de escombros. A grande lição para as nossas vidas é que nunca mudaremos se continuarmos vivendo limitados pelo nosso narcisismo, achando-nos os melhores, os perfeitos, os bons, os tais. Em nossa vida diária, os escombros existenciais precisam ser retirados para dar lugar a novas construções. Ou seja, para Deus construir o novo é preciso admitir que se retire o que é velho. No entanto, somente nós, com a ajuda de Deus, podemos corajosamente avaliar quais são as ruínas da nossa vida, o mais das vezes, ruínas inúteis. Deus nos ajude!
Metanoia: Mudança oposta no interior do homem, de um pensamento, atitude ou posição. O arrependimento é uma das doutrinas fundamentais da Biblia Sagrada, e um dos requisitos para que o homem alcance a salvação. O Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo, através da Palavra de Deus, gerando, com isso, o arrependimento no seu coração (Jo 16.8). A palavra no Antigo Testamento pode ser traduzida como desgosto. Deus se arrependeu de haver criado o homem, antes do dilúvio (Gn 6.6); Deus se arrependeu de haver constituído Saul como rei (I Sm 15.11,35); Deus se arrependeu do castigo enviado em Israel, por Davi numerar o povo (2 Sm 24.16). Nos antigos tempos, principalmente nos tempos de fome, seca ou calamidades, o povo de Israel tinha a necessidade de proclamar um arrependimento nacional, o qual era acompanhado de jejuns, de saco e cinza, de recitar orações e salmos, como parte do culto de arrependimento (Is 58.5; Ne 9.1; Dn 9.3). João Batista, no deserto da Judéia, começou a pregar o arrependimento individual como preparação para a vinda do Messias. Na era apostólica, o arrependimento foi o tema central das pregações dos apóstolos, e a Igreja hoje continua pregando a mesma mensagem: "Arrependei-vos, pois e convertei-vos!"