"Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ángulo; Pelo Senhor foi feito isto, E é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos." (Mt 21.42-43) A interpretação desse texto e a de Jo 1.5b, vista a olhos razos, parece-nos que Deus não soube entender o homem: “E a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam”! Mas não é tanto assim como podemos imaginar superficialmente. Existem dois significados para o verbo entender – katalambanoo do grego moderno: 1) tomar posse, absorver e apoderar-se de alguma coisa, jogando-se sobre ela; 2) entender e absorver com a mente. O ser humano que está colhendo o resultado dos seus pecados, não pode, a princípio, entender à luz do Evangelho a ele manifestado. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Co 2.14). João Marcos, um dos líderes da igreja primitiva é autor do segundo Evangelho que leva o seu nome. Era ele filho de Maria, em cuja casa os discípulos oravam quando Pedro tinha sido preso a mando de Herodes Agripa (Atos 12.120). Algumas vezes ele era chamado pelo seu nome hebraico, João, e às vezes pelo latim, Marcos. Sendo ele influenciado pelo seu tio Barnabé (Cl 4.10), após ter terminado uma tarefa de ajuda humanitária à Jerusalém, partiu, juntamente com ele e Paulo à Antioquia da Picídea (Atos 12.25). Durante o percurso entre Antioquia, Chipre e Panfília (Atos 13.5), Marcos deixou Barnabé e Paulo, regressando à Jerusalém (Atos 13.13). A razão mais provável era porque Paulo se tinha transformado um missionário apaixonado pelos Gentios (Atos 13.4-12). Mas esta cisão ocorreu por causa desses seguintes fatos: a) o plano milenar de Deus foi calculadamente rejeitado (Jo 19.15); b) o reino de Deus foi tranferido aos gentios (Ef 2.15,16) e c) a incersão do milagre do novo nascimento. Ao Apóstolo Paulo, o legado de Deus aos gentios, lhe foi revelado o grande mistério da Encarnação e o da Noiva Cordeiro — a igreja! Na linguagem judaisante do Novo Testamento, descobrimos que ela é um povo zelozo e de boas obras (Tt 3.14). Povo oriundo de dois povos: judeus e gentios (Rm 10.11), chamados por um decreto (Rm 8.28), alistado para uma milícia (1 Tm 2.3-4), combatendo contra o mal, contra os inimigos da cruz de Cristo (Fp 3.18), e a favor dos salvos (Cl 3.12). Paulo nos seus ensinos exorta aos fiéis a permanecerem firmes, esperando o novo céu e a nova terra, quando Deus limpará todas as lágrimas dos que paumilharam neste mundo caliginoso, por amor a Cristo (Fp 3.20; Ap 21.4). O pragmatismo que a igreja vive hoje, e que deve ser profundamente agradecida a Deus por esta cisão, foi resultado direto destes históricos eventos: "E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam." (Rm 10.20). Foi por causa dessa rejeição que os gentios - zambujeiros foram inseridos na oliveira - Israel: "Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado." (Rm 11.24-25). E, porque estão agora na Oliveira, têm, fluindo em si mesmo, uma nova seiva.
Após dez dias da ascensão de Jesus ao céu, os discípulos, segundo a ordem do Senhor, estavam reunidos em um número de quase 120, em Jerusalém, esperando a promessa do Consolador (At 1.4,5). De repente, um som invadiu o cenáculo onde estavam reunidos, e todos foram batizados com Espírito Santo e com fogo (At 2.1-4). A Igreja, que havia sido fundada na cruz do Calvário, foi inaugurada! Para um evento de tamanha importância, Deus permitiu que estivesse em Jerusalém, representantes de todas as etnias daquela época, os quais evidenciaram a grande mensagem salvadora naquela tarde (At 2.7-12). Foi sim, um final diferente para uma festa judaica, especialmente, a de Pentecoste. A autoridade que revestiu os apóstolos foi tão grande, que Pedro e os demais saíram para fora; e aquele impulsionado pelo Espírito Santo, trouxe a mensagem da morte, ressurreição e ascensão de Cristo para os presentes. Como não podia ser diferente, quase 3.000 almas foram agregadas à Igreja que recém havia sido inaugurada. Finalizando a “Verdadeira Festa de Pentecoste”, estes novos convertidos regressaram às suas cidades e países, levando consigo a mensagem pentecostal de salvação. Como resultado, vemos a expansão da Igreja, alcançando toda Ásia Menor, Europa, África e Palestina. Com a mesma intensidade que os apóstolos obedeciam à Grande Comissão, as perseguições surgiram, e logo vemos estes grandes homens sendo apedrejados, decapitados, crucificados, queimados e mortos à espada (At 8.1-4; Hb 11.36-38). Porém, à medida que estes apóstolos iam saindo do cenário, outros foram levantados por Deus com o mesmo zelo e autoridade, a fim de defender a Doutrina e o Rebanho do Senhor. A palavra Igreja deriva do vocábulo grego Ekklesia, que significa chamar para fora; uma assembleia pública cristã. No Antigo Testamento se referia a Congregação de Israel, uma nova comunidade teocrática convocada desde o cativeiro para adorar e servir a Jeová, demonstrando seu senhorio em meio dos povos (Nm 10.17; Sl 22.22; At 7.38). A Igreja no Novo Testamento não só reflete um movimento histórico, mas uma realidade universal que comporta todos os salvos por Cristo de todas as épocas, raças, línguas e nações, os quais tiveram suas vidas regeneradas pelo sangue de Jesus. Nas Epístolas Paulinas a designação Igreja é para o Corpo de Cristo (1Co 12.27), a Noiva do Cordeiro (Ef 5.23-27). Jesus ao ascender ao céu deixou mandamentos para sua Igreja, e para isso a revestiu de autoridade para proclamar o Evangelho (Mt 28.18-20), para celebrar os sacramentos do Batismo nas Aguas e Santa Ceia (At 2.41,42); para expor a verdade, denunciar o pecado (At 5.11), confrontar os poderes malignos, curar as enfermidades, expulsar os demônios (Mc 16.15-18), disciplinar os errados, perdoar e restaurar os que pertencem à Família de Deus. Contra a Igreja, disse Jesus: “Nem as portas do inferno prevalecerão contra ela” (Mt 16.19). A esta Igreja, o Corpo de Cristo, Jesus a supriu de vocações, dons e ministérios, cujo fim é o aperfeiçoamento do próprio corpo. “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo. ” A presença da Igreja neste mundo é vital, porque ela resiste o mal e ao inimigo (2Ts 2.7). Enquanto a Igreja dá testemunho da justiça e amor de Deus, sendo a luz e o sal da terra; ela também se prepara para o grande dia do Arrebatamento, no qual ela passará de Igreja Militante (Ef 1.22), a Igreja Triunfante e Glorificada (Jo 17.24).