Israel, depois de 400 anos de silêncio da parte de Deus, procurava
desesperadamente por líderes para a conduzir. Os fariseus e os saduceus, somente
pela indumentária e apostura religiosa imposta, se apresentavam como esses
líderes! Jesus conhecia, não somente os seus corações, mas que eles próprios não
tinham passado pelo crivo das Bem-Aventuranças do Sermão do Monte, a fim de
adentrarem no Reino Messiânico. Nessa região montanhesca dos Galileus, ao
contrário do Monte Sinai, do Monte Sião, do Monte Tabor ou do Monte Hermon, ele
elegeu para fazer uma das maiores exposições morais da Lei! Foi nessa montanha
legada a Issacar e Zebulon, que deveria chamar o povo para ouvir as boas novas,
pois “De Zebulom disse: Zebulom, alegra-te nas tuas saídas; e tu, Issacar,
nas tuas tendas. Eles chamarão os povos ao monte; ali
apresentarão ofertas de justiça, porque chuparão a abundância dos mares e os
tesouros escondidos da areia” (Dt 33.19). Sim, à briza do mar, Jesus
pronunciou as oito bem-aventuranças: (1) os pobres de espírito
– coração vazio de malícia; (2) os que choram – coração vazio
de vaidade; (3) os mansos – coração vazio de soberba; (4)
os que têm fome e sede de justiça – coração vazio de vingança;
(5) os misericordiosos – coração vazio de egoísmo; (6)
os puros de coração – coração vazio de lascívia; (7) os
pacificadores – coração vazio de contendas; e (8) os que são
perseguidos por praticarem a justiça – coração cheio de Deus!
No Sermão do Monte, Jesus rejeitou definivamente a possibilidade de alguém
liderar a nação, estando este no estado pior do que ela própria — “Porque
vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo
nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 5.20). Ora, a fim de que alguém
pudesse ensinar a outra pessoa, era imperativo saber e
ver as coisas que estariam ensinando. Eles não viam, nem conheciam!
Jesus quis ajudá-los a retirar esse impedimento, mostrando a realidade deles
através da parábola do Guia Cego! Portanto, e nesse contexto,
as duas seguintes questões fundamentais foram levantadas: i. Por que os fariseus
não poderiam liderar a nação ao Reino Messiânico? ii. Qual seria o perigo
iminente de alguém seguir o farisaísmo com a meta de alcançar o Milênio? A
resposta única de Jesus foi que, tanto a nação como seus líderes, estavam cegos!
O prólogo do Evangelho de João — “E a luz resplandece nas trevas, e as
trevas não a compreenderam” (Jo 1.5), o epílogo do profeta Malaquias —
“Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará
nas suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria” (Ml 4.2),
nos transporta à realidade da cegueira espiritual: falta de conhecimento!
Jesus foi a revelação do Pai, a qual os líderes por capricho rejeitaram. Não
podiam ver, por não terem recebido a iluminação do celestial! Jesus explicou na
parábola do Guia Cego, que tanto a cegueira do líder, como a do liderado, era
causada por um elemento comum: madeira, coisas materiais —
"E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras
preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o
dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a
obra de cada um" (1 Co 3.12-13)! A única diferença estava no tamanho do
impedimento: um era uma tábua (trave) e outro era um
cisco (argueiro). A tábua estava segura pelas próprias mãos dos
fariseus; mas o cisco estava encravado no olho da nação! Em outras palavras, o
portador do cisco estava enfermo, como o publicano da oração
diante do templo — “tem misericórdia de mim, pecador”. Olho irritado,
enfermado, necessitando que alguém pusesse um líquido sanativo em seus olhos! O
portador da tábua, o fariseu, entretanto, a tinha posta por
única conveniência pessoal e lucros religiosos. Seus problemas internos não
deveriam vir à luz — "Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica
de todo o pecado" (1 Jo 1.7)! Para enxergar bastava retirar a tábua, como
paradoxalmente mostrado na oração do fariseu em frente ao templo — "graças
te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros"
— uma enorme tábua!
Acusar, não retira o problema do olho do enfermo; exercer um ministério com fins
únicos lucrativos e benefícios pessoais, não agrada e nem cumpre o chamado dos
céus! Era necessário retirar a tábua dos seus olhos primeiro,
para que pudesse ver o cisco no olho infeccionado do enfermo
que tinha sofrido um acidente. Depois de sarado, ambos poderiam caminhar na
vereda da justiça do Reino dos Céus! Assim, todos aqueles que submetem suas
vidas a uma direção errônea e desprovida do conhecimento verdadeiro, terão um
fim trágico! Pode um indouto guiar alguém? Sim, pode, mas ambos cairão no abismo,
sem de lá jamais poderem sair! Finalmente, pode um líder que está cego pela
presunção, pelo orgulho, pelo sofisma religioso, pelo egoísmo, pela intolerância
étnica, pela avareza e pelo amor a este mundo, liderar alguém no caminho
celestial do Reino Messiânico ou da vida eterna? Absolutamente não! Esta foi a
admoestação de Jesus aos fariseus acerca da verdade proposta: ver para
depois instruir! O fim dos líderes e da nação foi o mesmo: rejeição
daquela geração por Jesus Cristo — o Messias!
Desde as mais antigas citações bíblicas, o ensino cristão é responsabilidade da família. Somente depois da instituição do culto público, do ministério sacerdotal, e da construção do tabernáculo é que a liderança religiosa ministerial passou a ter certa influência no ensino do povo. A clarevidência deste fato encontra-se no esforço do sacerdote Esdras na restauração do culto e no ensino do povo nas Sagradas Escrituras (Ne 8.5-9). O fato de pesar sobre os pais a responsabilidade maior quanto ao ensino dos filhos, não só é uma realidade auto-evidente, mas também é mandamento da Divindade (Dt 6.6,7). Do ensino dos pais para seus filhos, dependia a sobrevivência na fé da nação que foi levantada na fé de seu pai Abraão. As histórias da interação de Deus a favor de seu povo eram recontadas geração após outra e assim sobreviveram até que foram documentadas por escrito e tornaram-se o Livro Sagrado de Israel. No contexto do Novo Testamento ainda se vê evidente o valor do ensino cristão no lar e o fruto pragmático que este traz à Igreja do Senhor Jesus (2 Tm 1.5). Encontra-se também neste tempo, em meio aos doutores da Lei, os ensinadores e tutores na mesma, como foi Gamaliel de Saulo, seu discípulo (At 22.3). Portanto, quando se fala da sociedade judaica, o ensino religioso seguia bons princípios, era sedimentado pela família e reforçado pelos magistrados. Com o advento de Cristo, a nova Igreja igualmente dependia de que a doutrina, agora Cristã (proveniente da obra vicária de Cristo), fosse guardada e também ensinada a outras gentes, e às gerações futuras. Foi ainda no tempo da Igreja primitiva, que o Evangelho se espalhou para o mundo gentio, fazendo com que as doutrinas cristãs, agora, tivesse que sobreviver em meio a sociedades totalmente pagãs. Esta realidade se estende até os dias de hoje. A Igreja cresceu em todo o mundo, mas de maneira geral é minoria entre as nações. As sociedades mundiais são coerentes em prover a educação para suas crianças, suas leis, como a do Brasil, declaram: "A educação é dever do Estado e direito do cidadão". É bem verdade que os Estados têm se responsabilizado pela educação do seu povo, e seus cidadãos têm gozado deste direito. Mas aos crentes paira a preocupação do que consta a educação do Estado; e esta tem, através dos séculos, sido plataforma do humanismo, naturalismo, paganismo e até do ateísmo, porque o mundo está no maligno (1 Jo 5.19). Algumas comunidades evangélicas provém escolas seculares evangélicas para seus filhos. No entanto, a percentagem de seu alcance é muito pequena, e sua maior tarefa torna-se o não proliferar, pelo ensino, as correntes filosóficas do mundo. A Igreja tem se esforçado, de maneira geral, para manter a doutrina dos apóstolos, e para viabilizar o ensino da mesma, para os crentes de todas as idades, níveis intelectuais e posições eclesiásticas; no entanto, o ensino na Igreja deve ser a sedimentação de uma fé ensinada no lar, e a vida cristã no lar deve frutificar o ensino recebido na Igreja. A escola dominical, cultos de doutrina, seminários bíblicos e faculdades de teologia são os pilares do ensino cristão na Igreja. Conclui-se que, tanto no percorrer das Escrituras, como na realidade da vida cristã do presente século, o ensino cristão deve ser enraizado em dois pilares: a família e a Igreja. Um complementa o outro, e assim o crente é educado, protegido, e aprofundado na sã doutrina do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.