Ambiente: (Lucas 16.19-31) — “Ora, havia um homem
rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo
mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele;
e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado” (Lucas 16.19-22). Os chefes religiosos da nação, particularmente os fariseus, eram amantes do dinheiro e das possessões adquiridas. Para eles, ser abastado, era sinal da prosperidade divina, e consequentemente, que suas vidas estavam aprovadas por Deus, e
que tinham passado nos oito crivos das bem-aventuranças do Evangelho de Mateus. Viver ostentado, com finérrima indumentária e diariamente banhado representava, à sua vista, uma vida santa e de comunhão com Deus! Os demais da população empobrecida de Israel eram tidos como um mal necessário para a manutenção das suas vidas repletas de hipocrisia! Estavam bem asseados por fora, porém imundos por dentro, como Jesus mesmo afirmou:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia” (Mateus 23.27). Nesse contraste injusto da sociedade hebreia, Jesus contemplou as suntuosas mansões com seus ricos varandões, aonde hospedavam os pomposos jantares dos fariseus. Da mesma forma, e de uma amena observação, Ele deu uma passagem rápida e escrupulosa, num
sábado, pelo Vale da Geena, onde ele contemplou o fogo incinerador de um lado, e as lavras dilaceradoras dos corpos em putrefação, do outro. Nesse cenário de profunda sensibilidade, Ele pronuncia uma das mais teológicas e solenes parábolas: O
Rico e Lázaro! Nela, ele não somente explica o futuro após morte
de todo o ser humano, assim como exorta o resultado de alguém viver a sua vida terrenal dissoluta, sem pensar no seu próximo, e em última análise, em si mesmo! A Parábola do Rico e Lázaro retrata um fato histórico, esboçado numa semântica divina, dos estados imediatamente após a morte daqueles que, obstinadamente, sem templo e parentes, serviram a Deus — os
gentios:
“E no seu nome os gentios esperarão” (Mateus 12.21); e daqueles que historicamente ficaram distantes do seu Criador, apesar de possuírem sua religião — os
judeus:
“Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas” (Romanos 9.4)!
Explicação: O âmago da parábola-histórica de Jesus residiu em chamar a atenção da forma como os dois homens viveram, e em última estância, como Israel e os Gentios se comportaram diante de Deus. Jesus não apontou para nenhuma conduta imoral ou transgressora por parte do “rico”, mas
ao pecado que ele cometeu em viver somente para o presente — somente para ele! É até possível que Lázaro fosse um pedinte conhecido de Jesus, dos discípulos e dos fariseus. Mas como o seu próprio nome se interpreta —
Deus é o meu ajudador, seu mérito estava em não maldizer o rico, e sim ficar dias após dias, prostrado ao seu portão, sabendo que a misericórdia de Deus, de uma forma ou de outra, o alcançaria! Num daqueles dias, os outros pobres o encontraram morto à margem da estrada de acesso
à mansão do rico! Correndo o puseram numa cavalgadura, e levaram ao seu último destino aqui na terra: o vazadouro público de Jerusalém, a
Geena! Sabemos que todas as nossas ações, quer sejam espirituais, ou seculares, terão sempre repercussões eternas! O ‘homem rico’, do vernáculo latim –
dives, é aquele que só pensa em riquezas passageiras, contrastando com Lázaro –
lazarus, o qual sempre dependia da ajuda de Deus. Aquele pensava sempre nas coisas efêmeras — no
horizontal: “serão lançados no inferno, e todas as gentes que se esquecem de Deus” (Salmo 9.17). Lázaro, entretanto, do amanhecer ao entardecer só pensava em Deus — no
vertical, o qual poderia lhe ajudaria a subsistir mais um dia:
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus” (Cl 3.1). Os destinos dos dois, finalmente, se cruzaram: um, de uma urna rica e um féretro atendido pela massa religiosa requintada de Jerusalém, descendeu ao Hades, sem nenhum companheiro no seu trajeto; outro, de um putrefato de lixo orgânico e dejetos do vazadouro da cidade, ascendeu ao Paraíso, escoltado por anjos! Jesus, em sua transcendente sabedoria ensina,
nessa parábola, três importantes doutrinas: i. o
destino eterno do homem (Hb 9.27); ii. a consciência após morte do homem
(Lc 16.27); iii. e a
incomunicabilidade entre os dois mundos espirituais (Lc 16.26)!
Interpretação: O mérito de Lázaro - Lazarus, ou do demérito do rico –
dives, não estava na sua posse, mas na sua conduta para com Deus e os homens! O abrasar do fogo da Geena é representado aqui, como o peso do juízo Divino nas consciências dos mortos ali residentes,
o qual se contrapõem ao frescor da água do Rio da Vida no Paraíso! A angústia interminável dessas almas, ali comparadas com os vermes que sempre estão a dilacerar o corpo ainda em vida,
é contraste da paz, alegria e liberdade no Espírito no Paraíso, cujo emblema é designado como
Seio de Abraão! Na consignação rabínica, pós-cativeiro, todos os judeus, após morrerem, tinham a grande confiança de habitarem, pelo menos em um dos três lugares por eles referidos: i. no restaurado
Jardim do Éden; ii. no Trono de Glória da Divindade; ou iii. no
Seio de Abraão, por ser ele o pai da fé! E ainda, segundo a sua
tradição, Abraão estaria a posto na porta do Hades para impedir que os eleitos
entrassem ali — que doce engano! Jesus utilizou o termo
Seio de Abraão para designar o Paraíso, ou Terceiro Céu, na teologia paulina:
“Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu... ao Paraíso” (2 Coríntios 12.2). Aqui está o grande contraste entre o Paraíso e o Hades :
“Para o entendido, o caminho da vida leva para cima, para que se desvie do inferno em baixo” (Provérbios 15.24)! Os fariseus nas suas enfadonhas prédicas costumavam interpretar erroneamente Eclesiastes 7.14 — “No dia da prosperidade
[Seio de Abraão] goza do bem, mas no dia da adversidade [Hades] considera; porque também Deus fez a este em oposição àquele
[apenas separados por uma parede], para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”! Apenas uma parede, que facilmente poderia ser transposta por aquele que estivesse no Hades! Destarte, a doutrina do
Purgatório, da Reencarnação e da
Aniquilação encontraram esplêndidos berços no judaísmo conveniente
dessa época. Parafraseando, Jesus defendeu a justa causa, e disse: sim, existe uma separação, ‘mas não é uma parede ou cerca’, é um grande abismo, do hebraico
chásma — uma instransponível abertura! Finalmente, Abraão sempre foi o emblema de fé espiritual, e prosperidade material:
“E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra“ (Gênesis 12.3)! A resposta de Abraão, o ‘homem rico’, a seu Filho no Hades foi coerente e material, por se tratar no contexto de riqueza e pobreza:
“Disse, porém, Abraão: Filho lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado” (Lucas 16.25). Jesus, dentro de uma linha apologética firme, disse:
“... e agora [e não por causa disso] este é consolado e tu atormentado”! Nenhum rico interpelado por Jesus deixou de lograr a salvação, porque que tinha ou deixava de ter bens; mas porque o seu coração estava apartado de Deus, e ligado ao deus desse século:
“Ninguém pode servir a dois senhores [Deus ou Satanás]; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom [mammònás - riqueza personificada]” (Mateus 6.24)! Concluo, o mendigo era materialmente pobre, mas sobre maneira, ‘pobre de espírito’; o que lhe garantiu chegar à presença do Deus Todo Poderoso! Entretanto, e com muita dor, o ‘homem rico’ era materialmente abastado, mas deplorado espiritualmente, o que lhe condenou eternamente
ao Hades – segundo inferno, ausente do Deus que ele sempre ouviu nos Sábados das sinagogas, e de Lázaro que esteve por um longo e doloroso período à sua porta!
Do latin schola, casa ou estabelecimento em que se ensina; ou do grego skholé, repouso ou descanso de outras atividades para à dedicação ao ensino. O nabi hebraico, do grego prophetes, era a pessoa devidamente vocacionada e autorizada por Deus para falar por Deus e em lugar de Deus. Como oficial porta-voz da Divindade, sua precípua missão era de proclamar e preservar o conhecimento e a vontade de Yaweh, o único e verdadeiro de Deus. Alguns profetas formavam comunidades ou escolas de profetas no intuíto de instruir novatos ao ministério profético. A expressão bíblica “filhos dos profetas” referia-se a todos os discípulos e ministros auxiliadores dos profetas vetero-testamentários. Embora os primeiros a serem chamados de profetas foram os patriarcas, sendo Abraão o primódio dentre eles, o ministério profético, portanto, começou em Samuel. Segundo estudiosos, o profeta Samuel é o primeiro a formar uma escola de profetas. Na passagem bíblica de 1 Sm 19.20, os mensageiros de Saul “viram uma congregação de profetas profetizando, onde estava Samuel que presidia sobre eles.” As escolas de profetas abrangeram os períodos da monarquia, dos juízes e dos profetas, sendo que a maioria das referências bíblicas se encontram no tempo dos reis. Os lugares ou cidades típicas com estas comunidades de profetas incluem Betel (1 Sm 10.2-5) e Gilgal (1 Sm 10.8-10), em virtude da proximidade ao santuário do Senhor. O exemplo bíblico mais proeminente dessas escolas ocorreu durante o ministério do profeta Eliseu. A Bíblia apresenta vários exemplos de Eliseu liderando os filhos dos profetas em sua época (2 Rs 2). “Vendo-o os filhos dos profetas que estavam defronte de Jericó, disseram. O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra” (2 Rs 2.15). Estes profetas mais novos sabiam quando o Senhor haveria de tomar ao profeta Elias para Si, assim como o próprio Eliseu sabia (2 Rs 2.3-7). Pelo ministério de Eliseu, o Senhor multiplicou o azeite da botija suprindo a necessidade de uma das mulheres dos filhos dos profetas (2 Rs 4.1-7). Eliseu, com farinha, sarou o caldo de ervas para os filhos dos profetas, cuja morte estava na panela, em meio a fome na terra de Gilgal (2 Rs 4.38-41). O profeta fez o machado emprestado flutuar quando os filhos dos profetas construíam um lugar espaçoso para habitar (2 Rs 6.1-7). Os filhos dos profetas, segundo o dicionário bíblico Holman, serviam de testemunhas ou de agentes no ministério do profeta Eliseu (2 Rs 9.1-3). As expressões bíblicas para skholé profetes incluem: a) “rancho de profetas,” quando Saul foi ungido rei de Israel (1 Sm 10.1-16); b) “congregação de profetas,” quando Saul enviou mensageiros a busca de Davi; c) filhos dos profetas,” durante o ministério de Eliseu e outras ocasiões (2 Rs 2.3-7). Os filhos dos profetas, além de profetizarem, também recebiam mensagem de Deus para transmitir, e um exemplo clássico foi a mensagem dirigida ao rei de Israel. Acabe havia recebido ordem explicita de Deus em relação a Ben-Hadade, rei da Síria, porém ele desobedeceu. O Senhor pela boca de um dos homens dos filhos dos profetas decretou a sua sentence. “E disse-lhe: Assim diz o Senhor: Porquanto soltaste da mão o homem que eu havia posto para destruição, a tua vida será em lugar da sua vida, e o teu povo em lugar do seu povo” (1 Rs 20.42).