O Fenômeno Evangélico
Brasileiro!
Rev.
Ricardo Gondim
Brasil |
Brasileiro,
pastor,
conferencista, professor e escritor. |
Padre Antônio
Vieira, preocupado com o avanço holandês e a aparente apatia
portuguesa para com o Brasil, pregou um sermão bombástico em 1640.
Deu-lhe um título não menos agressivo: Sermão Pelo Bom Sucesso
Das Armas De Portugal contra as da Holanda.
Ele já temia em priscas eras que o “pérfido calvinista” se
multiplicasse na colônia de sua majestade.
Hoje, sem o catastrofismo
medieval de Vieira, os altares católicos não foram invadidos por
milícias protestantes e nem se deixou de celebrar o Natal. Nenhum
católico precisa morrer sem se confessar. Entretanto, o
crescimento protestante, por meio do segmento evangélico
pentecostal, é grandioso, como ele bem previu e temeu. As igrejas
se multiplicam nas periferias das grandes cidades, os templos
estão todos lotados. A presença evangélica já é tão notória
que os intelectuais da academia dissertam sobre ela. Faz-se
notícia na mídia e continua incomodando a cúria católica romana.
As igrejas
evangélicas não se multiplicam isentas de problemas e
dificuldades. Por serem comunidades humanas, contêm
idiossincrasias e virtudes; beleza e vício. Por se encontrarem
situadas historicamente no tempo e na cultura, copiam os erros da
sua época.
A
idéia de que temos a obrigação de tornar o Brasil evangélico é tão
anacrônica como a fala de Vieira. Não podemos acreditar que
repousa sobre nossos ombros o dever de banir todas as expressões
não evangélicas de nossa cultura. Esse discurso é mera coreografia
religiosa que impressiona apenas nas liturgias internas. Também,
há a ameaça do capitalismo selvagem. Os evangélicos — bem como a
própria Igreja Católica — convivem com uma cultura dominada pela
cosmovisão pós-moderna do capitalismo neoliberal. A maior
tentação para a igreja é que ela passe a ser uma organização
gerida de acordo com as técnicas empresariais. No hemisfério norte
muitos ministérios assumiram o papel de executivos da fé. Seus
escritórios parecem-se com os escritórios das grandes
multinacionais; cercam-se de assessores e se reúnem regularmente
em reuniões de planejamento. Para esses empresários da fé, se
providenciarmos bons estacionamentos, cadeiras confortáveis,
ar-condicionado, um bom berçário para os recém-nascidos e uma
excelente lanchonete, conseguiremos lotar nossos santuários e
aumentar a arrecadação mensal. Por mais bem intencionados que
estejam, nenhum deles parece entender que lidamos com valores
espirituais e não gerenciais. Nosso desafio não é o de lotar os
auditórios, mas de inspirar corações a amar a Deus. Em muitas
cidades brasileiras já existem mais evangélicos por domingo nos
cultos que católicos nas missas, e a perspectiva de a igreja
evangélica tornar-se uma maioria pode ofuscar o perigo de que
estamos sucumbindo ao pragmatismo. Lembro-me de como os
fundamentalistas acusavam injustamente os pentecostais de
valorizarem as emoções acima da verdade. Hoje sim vale perguntar
se o neopentecostalismo — teologia da confissão positiva e
teologia da prosperidade — não hierarquiza o que é útil acima da
verdade.
O mais
estranho paradoxo que acontece na igreja evangélica brasileira é
que ela possui uma vida exuberante mas é pobre em sua teologia,
tem fé mas não consegue aprofundar-se na sua intimidade com Deus.
A não ser que seu desempenho externo reflita uma vida
profundamente arraigada no amor de Deus, sua piedade apodrecerá e
suas boas intenções sucumbirão!
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Corpo
Neuza Rocha
Estados Unidos |
Brasileira,
professora e membro Departamento de Apoio. |
Como cada parte do corpo temos na
Bíblia Sagrada, a metáfora que apresenta a Igreja
como corpo de Cristo (I Co 12.12); desenvolvendo a
idéia do corpo como forma essencial de expressão da
pessoa. O uso neotestamentário de sôma
(corpo), mantém a mesma significação deste
substantivo no hebraico, ainda que Paulo empregue a
expressão "corpo do pecado" como termo teológico
paralelo à carne. Para o ser humano total, temos no
Novo Testamento a distinção clara entre corpo, alma,
e espírito (Mt 10.28; I Ts 5.23; Tg 2.26). A Bíblia
nos mostra todas as atitudes cristãs para com as
coisas terrenas, "todas as coisas me são lícitas,
mas nem todas as coisas me canvém." Os nossos corpos
são de fato membros de Cristo (I Co 6.15), por uma
união espiritual com ele, pelo que devem ser
instrumentos para o seu uso, e habitação do Espírito
Santo (I Co 6.19), ou seja, nosso corpo não pertence
a nós mesmos. Um resgate de alto preço foi pago por
ele, portanto agora fazemo-lo instrumento para Deus.
O ser humano é tricotômico, e no sentido cristão,
ele não pode perder sua identidade total se o corpo
peca o espírito morre, se o espírito se alegra o
corpo se aformozeia. O código genético do homem lega
a cada átomo do indivíduo uma identidade, assim como
o DNA de cada pessoa não confunde com outra,
preparando o cristão para a ressurreição. Torna-se
então nossa responsabilidade manter esta unidade no
corpo. O nosso corpo não pode ser vilipendiado,
mutilado, corrompido ou destruído por nós, pois
somos uma propriedade particular de Deus, ele nos
comprou, e tanto a parte física como a espiritual
devem estar preparados para o dia da redenção.
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