Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento" (1 Pedro 1.15). Ninguém deve esperar que a transição que se faz de uma vida de pecados para uma de santidade seja algo fácil, natural e simples. Não, isso não é. Todavia, o Novo Testamento nos ensina que nenhuma pessoa verá a Deus sem a santidade (Hebreus 12.14); requer-se do homem ser perfeito em santidade tal como é Deus Pai (Mateus 5.48). Essa santificação deve controlar nossa vida presente em todos os seus aspectos; isto é, em todo o nosso procedimento. Se já não consideramos fácil manter uma conduta equilibrada, um comportamento sóbrio em toda a área social que limita a nossa vida, como trabalho, escola, vizinhança, o que dizer sobre a nossa maneira de viver no lar? Esta, para muitos, tem-se constituído na válvula de escape por onde deixa passar todo o seu recalque, mau humor e amargura, transformando o ambiente que deveria ser considerado como o oásis, o refúgio seguro, em um lugar onde impera o desamor, a discórdia e a incompreensão. Simão Estilita, que viveu no quinto século da nossa era, foi um daqueles indivíduos que se dedicaram completamente aos exercícios espirituais, mortificando o corpo com todas as suas tendências e inclinações carnais, tornando-se um eremita, um solitário. Como tal, decidiu ele que passaria a viver numa plataforma edificada no alto de uma coluna de vinte metros de altura. Ali se deixou ficar por vários anos, conquistando finalmente a fama de santo. Ouvindo o relato dessa história, a criança planejou também uma plataforma para o seu recolhimento. Subiu numa cadeira e depois colocou um banco sobre a mesa da cozinha e em seguida acomodou-se no banquinho. Tinha o propósito de ali permanecer como um asceta, assim como Simão. Depois de um quarto de hora, chega a mãe no intuito de preparar o lanche. Presenciando então aquela cena estranha, gritou com toda a energia: Desce já daí, menino; não vê que acabará caindo e esfolando o nariz? O garotinho, vendo ruir assim tão rapidamente o seu plano tão sério, desceu aborrecido, resmungando, inconformado: Puxa! Como é difícil ser santo na casa da gente! Sem a menor pretensão a criança, entretanto, disse, na sua ingenuidade, uma grande e profunda verdade. De fato, não é simples ser santo também no lar. Todavia, apesar de difícil, é importante que mantenhamos um padrão elevado de um verdadeiro testemunho cristão e de um exemplo digno de ser imitado, especialmente no lar. Essas atitudes, quando cultivadas com humildade, são capazes de influenciar a vida das crianças de tal maneira que, ao se tornarem os pais de amanhã, elas ainda conservarão dentro de si uma grande bagagem de exemplos que passarão a ser transmitidos.
Palavras como “santificação”, “santificar” e “santidade”, derivam do vocábulo latino sanctus, “santo”. Por sua vez, este vocábulo geralmente traduz o termo hebraico qadash, “separado”, “consagrado”; e o termo grego hagiasmos, “consagração” e “purificação”. O termo hebraico é utilizado no Antigo Testamento, aparecendo também como substantivo e adjetivo. Acredita-se que esse termo seja derivado de uma raiz hebraica que significa “separar” ou “cortar”. Alguns também sugerem que existe outro aspecto no significado dessa raiz que transmite o sentido de “brilhar”. Se isto estiver correto, então esse termo tanto pode enfatizar a ideia bíblica de separação, quanto à ideia de pureza. Seja como for, realmente ambas pertencem ao conceito de santidade. A santidade de Deus é intrínseca, absoluta e perfeita (Lv 19.2; Ap 15.4). É o atributo que melhor expressa sua natureza. Deus é “santo” (Pv 9.10; Is 5.16), e quem almeja andar com Ele, precisa viver em santidade, segundo as Escrituras. Nada de ruim existe em Deus e tudo nele é perfeito. Em tudo que faz, Deus é justo e fiel. Santo é o crente que vive separado do pecado e das práticas mundanas pecaminosas, para o domínio e uso exclusivo de Deus. Ser santo significa uma vida dedicada às coisas de Deus, amando a verdade, a justiça e o bem. Santidade é viver de maneira agradável a Deus. É exatamente o contrário do crente que se mistura com as coisas tenebrosas do pecado. A santidade é a marca distintiva do povo de Deus tanto no Antigo Testamento como nos dias de hoje. A partir do momento em que Abraão obedeceu ao chamado de Deus e creu em Deus, ele foi justificado (Rm 4.3) e deu início a história de Israel como o povo Santo do Senhor (Gn 12.1-8). Deus ordena que o seu povo seja santo como Ele é santo (Lv 20.26). Os hebreus passaram por um processo longo e doloroso de santificação (Gn 17.1). Passaram momentos de apostasia, mas sempre que voltaram a buscar a Deus e a santificarem-se, eles experimentaram a misericórdia e graça de Deus. Mesmo quando Deus cumpriu a promessa para o seu povo de dá-los a terra de Canaã, Deus continuou exigindo que o seu povo se separasse dos outros povos na terra prometida para manter a sua santidade e para que eles continuassem tendo uma identidade distinta. Hoje a igreja também tem esse chamado de santidade e santificação. Casamentos entre crentes e não-crentes cria um jugo desigual e debilita a vida espiritual do crente. Da mesma forma a igreja não se mistura com o mundo. A igreja está no mundo, mas não é parte do mundo (Jo 15:19). Sem a santidade requerida por Deus, nenhum de nós chegará à Jerusalém Celeste (Hb 12.14; Ap 21.8). Jesus quer voltar e encontrar a sua noiva “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5:27). Ele se sacrificou para santificar e purificar a igreja (Ef 5:26), e quer que os seus discípulos se mantenham santificados (Jo 17:17,19). Se ele nos achar infiéis, não nos levará às bodas, nem ao lar eterno com ele. Ele quer um povo santo (1 Pe 1:13-16) que demonstra a sua santidade no seu proceder no dia-a-dia (1 Pe 2:11-23).