A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". (1 Co 12:9). Em seu livro “A síndrome de Aquiles”, o jornalista Mário Rosa faz reflexão sobre sua experiência no inferno das crises que arrastam consigo aquilo que é mais precioso nas pessoas públicas: a reputação. Mas, também, deixa claro que todos estão vulneráveis neste mundo globalizado, onde o privado se torna objeto de todos. Reconhecemos que todos temos um calcanhar de Aquiles, que tocado pode ocasionar uma súbita inversão de valores, uma destruição de imagem. E isto pode acontecer com as melhores famílias, ministérios, personalidades públicas ou clericais. Quando acontece um incidente triste, decepcionante entre os evangélicos, por exemplo, infelizmente observamos que a postura contra estes se limita à crueldade e a um feudalismo sem fim. Sem fim porque são marcas que perseguem a vítima até o apagar de suas luzes! Mas, em nome da moralidade e bons costumes, o ostracismo é o melhor lugar para a vítima, para aquele que erra. Não desejo defender a graça irresponsável que significa justificação dos pecados, e não do pecador. Deve existir por parte dos vitimados um arrependimento sincero e leal diante do Deus das misericórdias, do perdão e do amor. Um Deus que não se decepciona com os nossos pecados, embora se entristeça, pois sabe que somos pecadores em potenciais, podendo falhar a qualquer momento. Sabe ele que fazemos o que já foi produzido em nossos corações, pois aos grandes homens os grande erros! Quão bom seria se os ministros do Evangelho, as instituições e denominações fossem repletas da maravilhosa graça, que vai ao encontro do pecador nos momentos que ele mais necessita! No entanto, será que compreendemos que todos somos iguais, sujeitos a todas as assertivas humanas ou diabólicas? Há entre os líderes evangélicos e igrejas o discernimento real a respeito da graça e sua manifestação? Pois, quando olhamos às nossas ribaltas eclesiásticas, constatamos, irrefutável, de que estamos distantes de vivenciarmos o que entendemos ser a graça de Deus. O tradicionalismo e o condicionamento nas instituições evangélicas têm conduzido seus membros a se classificarem numa certa escala de pecados: uns para morte, outros para sustentação do status quo. Pergunto, será que esta graça inefável e Divina realmente nos basta e nos satisfaz como entoamos em nossa tradicional liturgia? O texto em apreço diz: basta! Nesta perspectiva posso assegurar que não existe imagem destruída. Não há integridade manchada para sempre, aleluia! Talvez, só na forma de agir da igreja que sofre os males de uma sociedade em decadência. Parece-nos que há um processo dinâmico na graça que age no homem fraco, com a imagem moral e sentimentos afetados. Em meus anos de ministério, lidando com igrejas de diversificada composição étnica, tenho percebido duas possibilidades: a primeira, é que a graça — a ação dinâmica de Deus, se agiganta no homem à medida que ele precisa de restauração e força. A segunda premissa, é que quanto maior for a fraqueza do homem, quanto mais catastróficas forem as rupturas e as erosões da sua imagem enquanto servindo a Deus, mais a graça é refletida em sua vida e evidenciada para o mundo. É na fraqueza que a graça restauradora é sentida em todas as esferas, fazendo do moribundo um exemplo de credibilidade e invejável integridade! Minha oração e voto é que as nossas Assembléias de Deus não sejam agências de inquisição, detentoras de toda pureza e saber, mas que tenham a coragem e ousadia de ser objeto e veículo, por excelência, da inefável graça de Deus!
A divina graça é a manifestação do imensurável amor de Deus Altíssimo para com a humanidade (Jo 1.16). "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2.8). Enquanto que a misericórdia mostra a compaixão de Deus pelo ser humano, a graça é o favor imerecido concebido por Deus à raça humana. "Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus" (Rm 3.24). A graça e a misericórdia estão divinamente interligados. Deus em sua misericórdia e compaixão não envia para o inferno, condenação eterna, a nenhum pecador arrependido e convertido à Cristo. "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3.22). No entanto, o Altíssimo em sua gloriosa graça tem preparado lugar celestial para todos os nascidos de novo em Cristo Jesus, o Senhor e Salvador (Jo 14.1-3). Na manifestação da graça de Deus, a salvação veio para todos os homens, e esta graça salvífica tráz consigo, o perdão (Dn 9.9); a reconciliação com Deus (2 Co 5.18); justificação pela fé (Rm 5.1); regeneração (1 Pe 1.23); expiação (Is 53.10); redenção (Ef 1.7); propiciação (Rm 3.25); eleição (Ef 1.4); glorificação (Rm 8.18, 30), adoção (Rm 8.15-17); e, muitas mais bençãos em regiões celestiais (Ef 1.3). A graça divina atinge as almas perdidas e alcança os salvos no seu cotidiano, sim, a graça de Deus fala ao âmago do coração do homem (Gn 6.8). Do hebraico hessed, do grego charis, e do latin gratia, este favor e dádiva do Todo-Poderoso só é disfrutado quando o recepiente recebe a Jesus em seu coração e vida (Jo 1.11). Deus trouxe a Lei através de Moisés, porém do Verbo Vivo provém a graça (Jo 1.17). Pela lei o homem tem conhecimento do pecado, e pela fé o homem pôde entender e ter entrada a esta graça da glória de Deus (Rm 7.7; 5.2). No período Vetéreo Testamentário, os patriarcas e os homens de Deus, como também o povo de Israel, buscavam achar graça aos olhos do Senhor (Nm 32.5). Os exemplos bíblicos da graça de Deus são inúmeros. Aos soberbos Deus resiste, mas aos humildes Deus dá graça (Pv 3.34; Tg 4.7); O Senhor deu graça ao povo de Israel ante os egípcios na sua saída (Ex 12.36); Moisés pede graça à Deus para entrar em Canaã (Dt 3.23-24); Gideão pede um sinal a Deus segundo à Sua graça (Jz 6.16-17); Daniel recebe a graça de Deus perante o chefe dos eunucos da Babilônia (Dn 1.7-9); Maria achou graça aos olhos de Deus para conceber ao Emanuel (Lc 1.30); a graça superabunda nas mais densas trevas (Rm 6.1). Se as obras salvassem, a graça salvífica não seria manifesta (Rm 11.6). Pedro dá testemunho da graça de Deus entre os gentios, com efeito estes estão livres do jugo da lei (At 15.10-23). "Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também" (At 15.2). A expressão da graça divina é caraterística nas saudações do apóstolo Paulo (1 Co 1.3; Gl 1.3). "A graça do Senhor Jesus Cristo seja com todos" (1 Co 16.23). Amén.