Lembro-me quando, ainda pequeno, fui confrontado com um assunto que não pude contra-argumentar com os meus pais – fiquei num beco sem saída. Sentindo meu interior como destrossado, minha face pálida, meus olhos recequidos, bradei com toda a intensidade – falei um tremendo palavrão! Eu era jovem, mas não tão jovem que não pudesse recobrar dentro de mim um profundo sentimento de culpa. A resposta pronta e determinante dos meus pais foi que fosse ao banheiro lavar minha boca e escovar meus dentes! As palavras que tinha acabado de falar deixou minha boca imunda, e uma restauração espiritual tinha de tomar conta de minha vida imediatamente! Eu obedeci, sentindo o amargo do meu pecado. Coloquei pasta na minha escova, e enquanto escovava meus dentes, me humilhei diante de Deus, pedindo que me ajudasse a ter controle de minha língua, e me perdoasse enquanto limpava minha boca! Aquela foi uma ação de arrependimento e restauração que tomaram conta tanto de minhas gengivas e dentes, quanto da minha alma! Apesar de reconhecer que aquela experiência trouxe consigo uma futura e determinante vigilância, percebi que havia pontos sutís do falar, que fazia estar sempre em contínua vigilância.
No hebraico lãshon e do grego glõssa, ambas as palavras designam a língua da boca e por extensão o idioma falado. O termo hebraico é igualmente usado para designar a língua física dos animais (Ex 11.7). Também é vocábulo para designar objetos em forma de língua, ou fenômenos assim parecidos, como por exemplo, uma barra de ouro ou uma baía do mar. Existem quatro diferentes designações de língua nas Escrituras Sagradas. 1- A língua usada como um órgão muscular que contém o paladar e está situado na boca, servindo assim para saborear os alimentos ingeridos. 2-É também usada como idioma falado por um povo ou nação, sendo parte integral da sua cultura e passado por gerações. A sua diversificação deu início na torre de Babel quando Deus confundiu as línguas humanas (Gn 11). 3- As línguas estranhas como dom e evidência dos crentes já batizados no Espírito Santo. 4- A palavra língua é paralelamente usada como boca e os lábios, como instrumento de fala. Esta contribui no canto e na fala. Assim, pode-se dizer que com a língua pode se pronunciar iniquidades ou entoar belos hinos. Por ser um instrumento de articulação oral, muitas passagens bíblicas usam o vocábulo em forma de metáfora para elogiar ou criticar as diferentes formas de discursos humanos. O livro de Provérbios aborda estes assuntos numa linguagem poética e variada. "Prata escolhida é a língua do justo" (10.20); "A língua do sábio é saúde... mas a língua mentirosa dura só um momento" (12.18,19); "A língua saudável é árvore de vida" (15.4); "A língua branda quebranta os ossos" (25.15), etc. A língua pode ser chamada da "janela do coração" do homem, com ela se verbalizam as intenções do coração. Ela é o veículo para pronunciar benção ou maldição. Para todo o crente, a língua é importante para demonstrar a verdadeira comunhão que ele tem com Deus. No entanto, para os ímpios, a língua é um instrumento de engano, mostrando assim o seu caráter. "A boca fala do que o coração está cheio". Jesus disse que o homem será justificado ou condenado por suas palavras (Mt 12.37). Um dos segredos para uma vida bem sucedida é controlar o que dizer, porque é tão poderoso, que a Bíblia diz que a morte e a vida estão no poder da língua (Pv 18.21). Não pela palavra isolada porque ela não tem poder em si mesmo, mas pela motivação pela qual foi pronunciada trazendo uma virtude maligna para destruir. Palavra que sai da boca como uma espada afiada pode ferir fatalmente a alma do próximo. Quando a língua é usada apropriadamente, serve para edificação. Veem conselhos que ajudam, incentivam e palavras geram fé. Mas para isso, é necessário encher o coração da Palavra de Deus e nutri-lo com amor divino. Balaão quis usar a sua língua para amaldiçoar o povo de Israel, mas Deus não permitiu. Jezabel, com sua linguagem malfazeja, ameaçou o profeta de Deus, que ao ouvir a mensagem fugiu para o deserto. Moisés abençoou o povo na sua despedida. O apóstolo Paulo e tantos outros usaram suas línguas para evangelizar, honrar e proclamar o nome de Jesus. "Guarda a tua língua do mal" (Sl 34.13).